sexta-feira, outubro 17, 2008

Não se fazem ET's como antigamente



O universo me deixa a cada dia mais desanimado. Tava todo mundo anunciando por aí que dia 14 de outubro, até que enfim, o pau ia cantar, que o mundo, finalmente, ia ser invadido por ETs e toda aquela magia da destruição em massa que conhecemos bem teria início. Lágrimas, sangue, apocalipse, enfim, uma nova pauta pra os especiais da TV. Tinha até vídeo no Youtube. Muita expectativa, spans, virais. Cheguei a assinar 13 correntes garantindo meu lugar no barco que leva ao outro mundo. Houve uma união sadia em torno da idéia.
 
           _ Cabral, tá sabendo já?
           _ Sabendo de que, porra?
           _ Os ETs, tão vindo, cara.
           _ Ou, to no ninfetas tesudas, bicho, não é hora.
           _ Sério. Deu no Youtube. Vai vir navona.
           _ Que dia?
           _ Dia 14 é o fim do mundo, Cabral. Você estava certo.
           _ Humm... que dia é hoje?
           _ Dez.
           _ Liga dia 13 pra me lembrar.
 
           Que sorte, hein? Eu, 29 anos, e vou acompanhar todo o horror. Sou um predestinado a ver o momento mais glorioso de nossa civilização. O auge de nosso império se desmantelar. A ruína de tudo o que o mau gosto e a indústria das embalagens construíram.
 
           A coisa ia bem. Passei na Renner e comprei bermuda nova. Não podia dar errado desta vez. Os sinais da decadência vinham de toda parte: quebra da Bolsa, Fábio Júnior no Jô, morte da minha pintcher e mais uma Pop Justice no Goma. Achei que realmente a coisa era séria. Se os egípcios, maias, incas, ianomâmis, Nostradamus e o pessoal da Universal nunca acertavam a data, a tia Blossom Goldshimit, a tal da canalizadora australiana, que tinha contato com a entidade há anos, não poderia estar errada.
 
           Mas aí me veio o primeiro sinal do desânimo. Nem para o fim do mundo se pode mais ser otimista. Blossom disse que a entidade se auto intitulava Federação da Luz. Puta que pariu. Federação da Luz? Essa entidade lê Paulo Coelho.
 
           Dia 14. O dia. O dia do triunfo do bom senso sobre a moda contemporânea e a franjinha. O dia que todo mundo poderia parar de pensar em salvar as malditas baleias. O dia que finalmente eu ia casar. Só que a vida, já sabem, é uma caixinha de surpresas. Outro casamento adiado. Não. Não que os ETs não tivessem vindo. Vieram. É só ver este vídeo aqui ó (http://www.youtube.com/watch?v=3ebxtVrqXT8) que você vai ver que vieram.
            
           Agora, aqui: invazãozinha de merda. Sem drama. Durante o dia. Todo mundo trabalhando. E ainda só no hemisfério Norte. Coisa pra inglês ver. E o pior foi a mensagem:
          
           "Nós viemos trazer a esperança. Não viemos para destruir nem dominar". Ah, tenha paciência, vossa entidade da luz. Cadê a brutalidade alienígena raiz, aquela coisa toda dos raiozões vermelhos que torram o pessoal? Cadê o laiser monstrão em cima da Casa Branca? A gritaria? O Arnaldo Jabor em sua última crônica, graças a Deus. ETs mais blasés. "Viemos trazer o bem, a harmonia". Harmonia de cu é rola! Cadê a artilharia pesada? Saudade do Vietnam. Aquilo lá que era coisa séria.
 
           Mas sei o que houve. Foi aquele filme do Speelberg. Aquele ET cabeçudo e bonzinho que começou essa babozeira toda. Eles devem ter visto o vídeo e acharam que era aquilo que a gente precisava. Mais uma vez Hollyood estraga a festa.
 
            Sou de uma época que ET tinha uma ideologia. Usava barba e camisa vermelha. Era gente de respeito. Os ETs de hoje fazem contato logo com os ufólogos, essa gente alheia a tudo e que só como vegetais? Isso não é ter consideração intergaláctica. Cadê a abdução maligna? Mulher ficando grávida de um verme esquisito que depois tenta destruir o mundo? Bola fora dos ETs. Vaia pra eles. A galera esperando o fim do mundo há 2 mil anos e nave me aparece na China, caralheo? E, daí, em nossa grande oportunidade de finalmente acabar com essa novelinha humana, me vem um: "Vocês precisam amar mais!".  Ei, ETs, a década de 70 acabou! Puta merda. Vou devolver a bermuda. R$ 19,90 em três vezes por nada?

Renato Cabral. Rá! Que se faça a luz!
www.oruminante.com.br
oruminante@gmail.com

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito legal o texto. No início achei que era seu mas logo vi que não era. :)