quarta-feira, novembro 29, 2006

À ESPERA DE SOCORRO



Tentava supor que aquilo não estivesse acontecendo. Tentava levar seus pensamentos para longe dali e esquecer aquela situação. Começou pensando em sua infância. Algumas imagens do pré-primário vieram com facilidade à sua cabeça. O colégio, a tia, os recreios. Logo voltava à realidade mas não poderia ficar ali. Tinha que pensar e esquecer aquilo.

Lembrou-se das namoradas que teve, das festas com os amigos. Aquele dia em que bebeu vodka até não aguentar mais e dormiu no chão frio daquela chácara, enrolado simplesmente em um tapete de limpar os pés. Lembrou-se da vodka. Nunca mais ousou colocar um gole daquilo na boca. Um pontada de dor se misturou na cabeça com as lembranças das férias que passou em Fernando de Noronha. COmo aquilo lá é bonito.

Ouviu ali, naquela situação, uma coruja soltar seu lamento. Parecia estar bem próxima. Não enxergava nada. Percebeu então, que estava até agora com os olhos fechados. Abriu-os devagar mas não conseguiu encontrar a coruja. Não conseguiu encontrar nada. Pensou em alguma música para acalmar sua cabeça que doía muito. Começou a cantarolar bem baixinho a música Confortably Numb do Pink Floyd. Pensou na letra e percebeu que ela até se encaixava naquela situação.

Sua voz, mesmo muito baixa, começava a falhar e sua cabeça doía mais e mais. Um calor percorreu seu corpo e ele enfim tentou se mexer. Em vão. Continuava preso debaixo dos destroços do seu carro que capotou na estrada e voou pela ponte, indo parar lá embaixo, ao lado do que um dia fora o leito de um rio.

Esperou por toda aquela noite. Não obteve socorro. Sucumbiu ali mesmo, ao som melancólico do cantar de uma coruja.

terça-feira, novembro 28, 2006

Mãe... tô na Globo!!!! :)

Oi pessoas.

Esta semana, este humilde blog está recebendo uma força pra lá de especial. Fui convidado pela Livia para escrever um texto no seu excelente LivinRooom. O site é uma revista eletrônica semanal com muita coisa boa. Esta semana, entre 28/11 e 04/12 a seção (ou seria sessão?) Esporádicos Futebol Clube apresenta um texto deste pobre sujeito que vos escreve: Eu.

Segundo palavras da própria Livia, "ninguém mata seus personagens com tanta classe como você!". Após anos de assassinatos virtuais, enfim terei a chance de publicar uma destas obras em um site sério e de qualidade.

É a grande chance deste blog conseguir mais de 10 acessos únicos por semana. E sabe o que é melhor de toda esta notícia? Hoje nem é 1º de Abril. Então corra lá... visite o LIVINROOM (clique aqui ou no menu de sites recomendados ali do lado) e navegue à vontade.

À Livia, meu muito obrigado pela oportunidade de fazer parte deste projeto.

Abaixo, a prova de que não sou um mentiroso com sonhos megalomaníacos de ser publicado em algum site sério. :)

domingo, novembro 26, 2006

Programa de Domingo


A sala estava cheia. Rostos os quais ele nunca havia visto, andavam de um lado para outro. Murmúrios pelos cantos, cochichos ao pé do ouvido. Tudo era um protocolo respeitável a ser seguido, mas para ele, chegava a ser engraçado.

As pomposas vestimentas demostravam que o respeito era merecido e que ele era uma pessoa de prestigio. As pessoas entravam e saiam sem parar e a cada momento, mais e mais pessoas vinham para pretigiá-lo.

Devido à sua posição no ambiente, era cumprimentado por quase todos. Todos que perto dali chegavam, o cumprimentavam com olhos serenos. Chegou a receber abraços e tapinhas nas costas. Estava se divertindo ao máximo.

Como todos os parasitas que ali estavam, se fartou com os salgados e com o cafezinho servido. Esse era seu intuito...essa era sua missão. Enchia a boca com 2, as vezes 3 pães de queijo que era seguido por um longo gole de café. Era observado por muitos, mas na condição que se encontrava, ou pelo menos que pensavam que se encontrava, não pronunciavam nenhuma palavra a seu respeito.

A diversão era tanta e ele não perdia nenhum olhar para seu lado. Não aguentou e soltou uma longa e alta gargalhada. Todos o olharam assustados. Caras de medo e de desespero se misturavam. Alguns choraram e ele não parava de rir. Levantou-se, pegou outro pão de queijo e saiu.

Deixou todas as pessoas daquele velório com cara de assombro. Não conhecia ninguém e isso o divertia ainda mais. Virou na esquina e desceu rumo ao colégio. Era um domingo, mas era obrigado a ir votar em seu candidato à presidência. Guardou um pão de queijo para a tarde.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Resultado do Teste!

Fazem 24 horas que peguei meu carro no lava-jato e ainda não choveu.

Sempre confiei em São Pedro. Ele é um cara legal... :)

quinta-feira, novembro 23, 2006

Teste de Sacanagem!

Acabo de lançar um teste para medir o grau de sacanagem de São Pedro.

Deixei meu carro para lavar hoje às 12:00h, debaixo de um sol gigantesco. Irei buscá-lo lavado e encerado às 17:00h.

Vamos ver quanto tempo até que São Pedro faça chover.

segunda-feira, novembro 20, 2006

Oportunidades



Fabiana morava no centro da cidade e trabalha perto de casa. Não acreditava em amor à primeira vista e nem em destino. Solteira e linda, morava com uma amiga em um apartamento bem localizado e trabalhava como gerente de marketing em uma empresa no centro da cidade. Carlos morava na periferia e sonhava com uma bela namorada e futura esposa. Acreditava que o destino um dia lhe traria uma princesa encantada. Trabalhava como garçon em um restaurante em frente à uma grande empresa de marketing, no centro da cidade.

Fabiana tomou seu café na varanda do apartamento naquele dia. Estava muito calor e a vista da cidade lá embaixo esfriava sua cabeça. Frutas, pão integral, mussarela de búfala e suco de laranja. Carlos comeu um pão com manteiga e um copo de café sem açúcar na padaria da esquina. Queria algo bem forte pra ajudar a acordar. Ficou até tarde assitindo o jogo do Brasil com os amigos e estava com sono e um pouco de ressaca.

Fabiana relaxou por alguns minutos na sua banheira de hidromassagem. Acordou cedo e tinha tempo até chegar no serviço. Carlos tomou um banho correndo e saiu apressado para não perder o ônibus que parava à três quarteirões do serviço. Era uma viagem de 40 minutos.

Fabiana desceu do elevador e foi para o serviço. Andou alguns quarteirões e passando de frente ao restaurante da esquina, parou pois o sinal de pedestres estava fechado. Carlos desceu do ônibus e parou em frente à banca do Agenor para ver as últimas notícias. Perguntou as horas e saiu correndo pois estava atrasado. Parou na esquina de uma grande empresa de marketing, em frente ao restaurante onde trabalhava. O sinal de pedestre estava fechado.

O sinal abriu. Carlos e Fabiana vinham em direções opostas. Fabiana viu Carlos de longe e apaixonou-se de imediato. Sentiu um frio no coração. Amor à primeira vista. Coisas do destino. Carlos olhou para baixo para arrumar o cinto no momento em que cruzava com Fabiana. Não olhou para seus olhos. Fabiana chegou a parar e olhou para trás. Carlos seguiu o caminhou alheio àquele momento. O sinal abriu e os carros vieram. Fabiana teve que seguir seu caminho. Não se cruzaram mais.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Novo Golpe - Cuidado!!!

Pessoal,

Recebi esta mensagem por email e acho que seria legal compartilhar. Trata-se de um novo golpe que estão aplicando aqui na cidade e quanto mais pessoas alertas à este tipo de problema, melhor. Fiquem atentos:


CUIDADO! NOVO GOLPE NA PRAÇA!


Amigos tenham cuidado! Não sei quantos de vocês fazem compras nos supermercados Carrefour, mas esta informação pode ser de muita utilidade. Mando esta informação para avisá-los que fui vítima de um assalto no Carrefour, mas poderia ter sido em qualquer outro supermercado. Funciona da seguinte maneira: duas garotas muito bonitas chegam perto enquanto você está guardando as compras no porta-malas. Elas começam a limpar o pára-brisa com esponja e um produto limpador, dizendo que é um novo produto que pode ser usado sem água e que elas são demonstradoras. Seus seios praticamente saem de suas camisas, ficando assim impossível não olhar. Eu até quis dar uma gorjeta, mas não aceitaram e me perguntaram se eu ia passar próximo a outro supermercado, pois elas iriam para lá. Eu falei que sim, que não tinha problema e entraram as duas no banco de trás. No caminho começaram a se beijar e logo em seguida começaram a fazer amor. Logo em seguida uma passa para o banco da frente e começa a fazer sexo oral em mim, me masturba, enquanto a outra me rouba o dinheiro que estava no meu bolso de trás da calça. Estejam alertas, pois poderá acontecer com vocês também!!!! Me roubaram na segunda feira, na terça feira duas vezes, na quarta, na quinta... e hoje vou de novo!!!!!!!

terça-feira, novembro 14, 2006

Distantes Pensamentos de Orneles

Orneles teve seu dia de rei naquela quarta-feira. Fora agraciado pelos diretores de sua empresa como o melhor gerente comercial daquela semestre. Contemplado com um aumento significativo de salário e uma festinha no final do expediente, Orneles era só sorrisos.

Pegou seu paletó e as chaves do carro sobre sua mesa depois da festa e desceu até a garagem do prédio onde ficava sua empresa. Ligou o carro enquanto pensava no decote e nas pernas definidas da Glorinha, a secretária do diretor. Voltou à realidade ao ouvir o rádio anunciando a previsão de tempo para amanhã.

Saiu da garagem ainda a tempo de ver o crepúsculo daquela tarde. O sol se punha com a mesma arrogância de todos os dias e o tom rosa no céu anunciava uma noite fria pela frente. O vento forte naquela hora da tarde parecia tumultuar ainda mais as ruas lotadas de carros indo para casa, de volta do trabalho ou da padaria ou do colégio das crianças.

Tentou manter-se calmo. Pensava no aumento de salário. Queria comemorar aquela vitória com alguém. Era sozinho. Lembrou-se da Glorinha novamente. Não tinha seu número. Havia perdido inúmeras oportunidades de convidá-la para sair devido à sua timidez. Tinha que mudar. Decidiu-se que no dia seguinte a convidaria. Seria uma noite inesquecível. Levaria-a para um jantar a luz de velas e depois iriam para um motel. Tomariam banho na banheira juntos e amariam-se ardentemente naquela cama. Todas aquelas curvas ao alcance de suas mãos...

Antes de sentir o baque, Orneles ainda tentou pisar no freio. Não deu tempo. O carro atravessou o cruzamento e foi pego em cheio por um caminhão do corpo de bombeiros. A empresa ficou fechada por luto pelo resto da semana. Glorinha aproveitou a folga e viajou com o namorado para o litoral.

terça-feira, novembro 07, 2006

Falta de Sono e a Batalha com o Barbeiro

Que a Terra é cheia de mistérios bizarros, isso não tenho dúvida. E destes mistérios, tem um que acontece comigo bem frequentemente.

É o Mistério da Falta de Sono nas Noites de Domingo. Ou simplesmente MFSND, para facilitar.

Como não podia deixar de ser, esta última noite de domingo pra segunda feira, aconteceu denovo. Junta-se ainda à esta noite o início do horário de verão na noite anterior e uma dormida de 1 hora à tarde. Somando isso tudo temos o MFSND++.

Estava indo deitar por volta de 23:00h. Janela aberta, TV ligada, quando entra à toda velocidade um baita de um barbeiro... daqueles que fedem bastante quando você tenta matá-los. Pois bem... olhei para ele voando pelo quarto e achei que deveria eliminá-lo antes de deitar. Não queria aquele bicho andando em cima de mim à noite fedendo.

Por padrão, todos estes bichos pousam no local mais complexo e de difícil acesso do quarto. No meu caso, foi dentro de um dos lustres. Pensei bem no que fazer. Acendí a luz deste lustre e acho que o bicho ficou com calor e andou até a beirada. Ainda estava fora do alcance do meu chinelo.

Uma ideia assás interessante vei em minha cabeça. Não tinha baygon em casa, mas tinha.... desodorante. Rexona Extreme. Não tinha como falhar. Se aquilo segurava meu suor durante todo o dia, imagina o que faria uma baforada em um barbeiro. E a resposta, após uma baforada em cima dele foi.... NADA. Realmente o bichinho só se mexeu um pouco, levantou as perninhas... limpou as patinhas e continuou lá... no mesmo lugar.

Apelei para o mais audaz dos equipamentos de um quarto: A Calçadeira de Sapatos. Fina e comprida, ela veio bem à calhar para dar um empurrão no barbeiro. Ele voou até o outro lustre. Já estava cansado e com calor. Sentei-me na cama e fiquei assistindo ao fim do Cirque du Soleil no E&A Mundo. Neste período, o danado do barbeiro saiu voando de volta ao primeiro lustre.

Não podia perder a chance. Pulei na cama e com um suave toque com o chinelo, arremessei o bicho para trás da minha mochila, em cima de uma cadeira. Há... era o fim dele. Ainda tive que dar umas pequenas pancadas nele para ele cair no chão. E como estava meio tonto, não precisei matá-lo. Ele se agarrou na Calçadeira e joguei-o pela janela. O interessante é que ele não soltou aquele odor fétido, enquanto eu o agredia. Deve ter sido por causa do desodorante, né?

Ao final de tudo, deitei-me e tentei dormir. A última vez que lembro de olhar no relógio, eram 1:08h e ainda após isso, rolei muito de um lado para outro sem dormir.

Advinha se acordei na segunda cedo de mau-humor e preguiça de ir trabalhar??

quarta-feira, novembro 01, 2006

ENCAPSULADO


Eram seus último momentos. Sabia que dali, não sairia vivo. Havia cometido um crime grave e agora, na câmara de gás, pagaria sua pena. Parecia uma cápsula de vidro. Ao centro estava agora sua cadeira. Braços e pernas presos por tiras de couro rígido o deixavam quase imóvel.

À sua frente, pelo vidro, seus olhos percorriam com calma os rostos de cada um. Seus olharem se cruzavam. Familiares da vítima pareciam ansiosos pelo momento. Tinham gana pelo desconhecido e aquele seria mais um show de horrores para seus olhos. O pai da pobre garota assassinada estava na primeira fila. Queria ver o espetáculo de perto. Com a cara brava, parecia uma rocha. Inabalável, sedento de vingança. Não retirou mais seus olhos dele.

Sua vil existência sobre a terra estaria logo terminada. Vasculhou o mais íntimo sentimento daquele pai e percebeu, atrás de todo aquele escudo sentimental, uma ponta de dó. Aquele foi o seu fim. Não queria que tivessem dó pela sua morte. Seu ciclo não estaria completo se partisse deixando para trás dó, ao invés de raiva. Tinha como missão espalhar dor e raiva. Falhou em uma delas.

Apertou o olhar enquanto a fumaça subia e embaçava sua visão. Não havia como fazer mais nada. Iria ser punido por falhar em sua missão. Seus pensamentos começaram a ficar confusos. Prendeu a respiração. Forçava seus braços e pernas mas não tinha mais forças para nada. Seu cérebro e pulmão parecia que iam explodir. Seu rosto estava vermelho. Soltou o ar dos pulmões que foram imediatamente invadidos pelo veneno. Não enchergava mais nada e não podia ser mais visto. Sua última visão foi aquela nuvem branca de fumaça e sua barriga, molhada de suor.