segunda-feira, outubro 05, 2009

Conto: Golpes da Vida




Elizete havia arrumado seu primeiro emprego. Trabalhava de vigia noturno no IML da cidade. Com seus 25 anos, passava por dificuldades financeiras e pegou o que apareceu na frente. Cuidava da avó a qual morava em sua casa. Eram apenas as duas largadas na vida.

Passava o dia cuidando da velhinha. Levava para passear na praça, dava remédios e era sua companhia. À noite, colocava Dona Aparecida para dormir, tomava banho e às 20:00h chegava no serviço. Sentia falta de amigos, sentia falta de companhia. Sentia falta de vida.

A noite era sempre longa e com seu walk-man no ouvido, Elizete passava as horas sentada em uma mesa lendo, assistindo TV e as vezes, andando pelas salas para garantir a segurança do local.Era uma casa antiga mas não muito grande. Das 3 salas do fundo, uma era de autópsia, a outra era onde ficavam as gavetas com os corpos e a terceira, com várias mesas onde defuntos aguardavam sua vez para serem cortados.

Sentia-se só mesmo com aqueles corpos espalhados pelas salas. Tudo era frio e silencioso. Em uma certa noite, Elizete descobriu um lindo homem, deitado em uma das mesas. Nunca havia visto em vida, nem em morte como foi o caso, um homem tão bonito e atraente. Fábio era seu nome. Não sabia as causas de sua morte, mas ele parecia perfeito.

Criou coragem e retirou o lençol sobre seu corpo. Envergonhou-se ao ver seu corpo nu, estirado sobre a mesa. Sentiu um calor dentro de si e sem se conter, beijou-lhe a boca. Estava fria e não houve reação. Mesmo assim, seus sentimentos rodopiaram dentro do corpo, aquecendo-lhe de cima à baixo. Soltou um suspiro curto e voltou para sua mesa.

No dia seguinte, Elizete estava disposta a realizar todas suas fantasias com Fábio. Mas ele não estava mais lá. Não quis procurá-lo nas outras salas. Tinha medo do que poderia ver. Pediu demissão e voltou para as ruas. Ganhou a vida como prostituta.

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