Iria iniciar mais um texto. Sobre o que falaria? Eram 20:46h daquela quarta-feira. Início de mês. Pensava se mataria alguém. Alguns gostavam, outros não. A página do word ainda estava branca. Nenhuma linha. Não poderia matar ninguém agora. Era cedo. Muito ainda aconteceria naquele mês para matar alguém. Melhor não.
Começaria com um nome, uma idade e uma breve descrição daquela pessoa, como de costume.
"-George tinha 27 anos."
Costume. Teria que acabar com o de costume. Queria novidades em seus textos. Apagou a linha. Nem gostava daquele nome mesmo. Um local. Um local seria bom de começar. Um local e um clima pesado para dar consistência ao texto.
"-O vento daquela noite de lua cheia fazia a placa daquele cemitério balançar lentamente."
Parou tudo. Aquilo era um conto infantil de fantasmas? Apagou tudo de novo. O clima havia ficado bom, mas o local e o modo como foi iniciado não deu credibilidade a história.
A música. Sim. Era a música do momento. Muito barulho, pouca melodia. Confundia suas idéias. Trocou de música. Clássica. Esperou a inspiração baixar. Não veio, claro. Sempre diziam que para escrever, não existe esta história de inspiração. Para escrever, basta sentar e escrever. As coisas vão surgindo aos poucos. Ainda estava com a tela em branco.
Pensou em um conto policial, com perseguições de carros, explosões e muito tiro.
"- Johnny e Max eram companheiros de policia desde que iniciaram suas carreiras."
Não não. Pode parar. Apagou correndo o início de filme da sessão da tarde, antes que alguém visse aquilo.
Espirrou de lado para não molhar a tela do computador. Espirro, sim, o espirro. Teve uma grande ideia.
"- Francisco já não aguentava mais segurar o espirro dentro daquele armário. O mofo do local agredia suas narinas. Segurou o máximo que pode, mas ele acabou saindo. Abafado, mas o suficiente para ser escutado por quem estivesse no quarto. Aguardou em silêncio a porta se abrir. Ela não abriu e ele continuou lá durante toda a noite. Não sabia por que estava lá, pois a história havia começado naquele momento. Não morreu lá dentro, mas também não saiu de lá. Pelo menos neste conto."
Eram 20:59h
Um comentário:
quem sabe no próximo conto ele saia dali...
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