segunda-feira, julho 07, 2008

Frias Noites de Inverno

Mais um texto resgatado do falecido blog.

Felício acordou com frio naquela noite. Apesar de estarem no inverno, as noites estavam agradáveis e aquele frio não era normal. Percebeu algo estranho ao ver que seu quarto estava totalmente escuro. Sentiu falta das luzes vermelhas de stand-by do som, da TV e do relógio no DVD. Sentiu vontade de fazer xixi.

Sentou-se na cama enquanto procurava a blusa do seu pijama perto do travesseiro. Começou a tremer. Não achou a blusa e então levantou-se lentamente e foi acender as luzes. Nada. Não havia energia. Estava no escuro total. Voltou para a beirada da cama e pegou seu celular. Pelo menos nele, conseguiu ver as horas. 00:00h. Sem sinal.

Resolveu ir até a cozinha buscar uma vela, ou pelo menos acender um fósforo. Não conseguiu achar seu chinelo naquela escuridão e abriu a porta. Na mão, apenas o celular com sua fraca luz verde que não iluminava nada. Mas para Felício, já era um consolo. Saiu do quarto e pisou no corredor que levava até a escada que descia para a copa.

O primeiro passo no chão frio e seu sangue gelou. Tremia muito e na escuridão, ficava quase impossível andar. Apoiando-se com dificuldades, chegou até a beirada da escada. A escuridão era total e Felício sentia-se jogado no espaço. Tinha a visão apenas de alguns poucos centímetros, até onde a luz verde de seu celular iluminava. Desceu o primeiro degrau.

O silêncio que reinava até aquele momento, foi subtamente quebrado, inicialmente por sussurros baixos. Felício girava sua cabeça de um lado para outro. Ouvia vozes ao pé do ouvido a todo momento. Estava paralizado. Não entedia o que diziam, mas eram muitos sussurros. Estendeu os braços e girou-os com força, na tentativa desesperada de acertar alguma coisa. Em vão. Os sussurros continuavam e agora, cada vez mais altos.

Não conseguiu mais segurar o celular que rolando escada abaixo, produzia um som assustador. Sentiu um líquido quente escorrer entre as pernas enquanto os sussurros continuavam. Ajoelhou-se na escada, e com as mãos no ouvido soltou um forte grito desesperador. Perdeu os sentidos.

Quando acordou, já estava claro. Seu corpo doía pela queda na escada e sua calça ainda estava molhada. O celular quebrado ao chão. Vendeu aquela casa naquele mesmo dia e foi morar em um flat. Nunca mais dormiu com a luz apagada e sempre levava velas e fósforo.

Nenhum comentário: