sexta-feira, maio 22, 2009

Eu Vi


Hoje tive um daqueles momentos que a rotina corrida do dia insiste em acabar. Hoje caminhei lentamente pelas ruas da cidade. Sem pressa, sem objetivo, sem horário. Somente eu. Caminhei em direção à minha casa, mas sem saber ao certo se era ali mesmo que deveria chegar.

Caminhei devagar. Olhando como se tudo fosse novo para mim. Caminhei observando detalhes que não são visíveis aos olhos dos que tem pressa. São invisíveis aos olhos do dia-a-dia.

Vi os carros estacionados e muitos com as rodas sobre a calçada. Vi as cores na placa de neon de uma loja e  o aviso de outra que fechou-se. Vi a pressa de um homem engravatado. Ele certamente não me viu. Vi o sorriso no rosto de uma criança que acabou de sair da aula e percebi o contraste deste sorriso perante as tristes faces das pessoas em um velório.

Vi uma mãe brigando com o filho para carregar a mochila direito. Vi restos de um colchão jogados em um beco misturando-se com lixo e sujeira. Vi o tédio no rosto de um segurança de uma loja, sentado, vendo os carros e as pessoas passarem. Vi pessoas sentadas na praça vendendo brincos e colares. Vi trabalhadores em cima de construções muito altas. Poucos pareciam aproveitar a vista que tinham lá de cima.

Vi jardins e casas que nunca tinha visto antes. Vi cores e texturas que nunca havia reparado. Vi o mundo ao meu redor de uma forma diferente.

E quando, por poucos segundos, estes olhos não perceberam o carro que vinha enquanto atravessa a rua, só pude ver, com um último suspiro, o asfalto se aproximando.

Não vi mais nada.

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