segunda-feira, agosto 10, 2009

Conto: Sucos no Cruzamento





Emilio vendia sucos de laranja nos sinais da cidade. Ganhava a vida debaixo de sol quente e não podia reclamar, pois quanto mais sol havia no dia, mais dinheiro ele levava para casa. Morava sozinho e não tinha ninguém para cuidar e nem para ser criado. Cresceu assim. Ganhou a casinha do sogro mas ele faleceu pouco antes da mulher. Ficou com tudo.
Tudo se resumia a um sobrado de 1 quarto, 1 sala, 1 banheiro e uma pequena cozinha, em cima da Padaria Esperança. Lavava as roupas na pia e secava na varanda. Vendia os sucos fornecidos pela própria padaria. Grande parte do que ganhava ia pra Dona Dalva. O resto trocava pelo básico da sua alimentação.
Tinha 33 anos e um dos melhores e mais movimentados pontos de venda da cidade. Tinha sonho de ter dinheiro para levar uma vida melhor. Daria seu sangue por isso. Foi atropelado por uma carreta que queria pegar o sinal ainda verde. Emilio só via o vermelho. Deu seu sangue ao asfalto. O amarelo do suco misturado com o vermelho do sangue criou uma estranha paisagem naquele cruzamento. O quadro abstrato no asfalto ficou por vários dias. O sobrado da Padaria Esperança virou depósito de sucos.

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