domingo, setembro 06, 2009

A Iniciação de Anacleto





Sua mão suava. O nervosismo era aparente em seu rosto. O coração batia acelerado e sua respiração era um pouco ofegante. Um formigamento subia por suas pernas e parava na cintura. Era este o momento.

Anacleto estava no banheiro público de sua escola. Não era intervalo e tudo estava vazio e calmo, exceto ele. Sabia que tinha que vencer aquela vontade, mas era muito para sua cabeça. Estava extasiado com aquilo tudo e temia não resistir. Ficou parado. Olhou em volta rodando lentamente sobre os calcanhares. Estava só.

Foi para dentro de um box com vaso. Fechou a porta atrás de si e colocou a mochila tampando o vão embaixo da porta. Desceu a tampa do vaso sanitário e sentou-se no chão. Pensava em o quão resolveria seus problemas com aquela atitude. Abriu o mochila e retirou um saquinho de pó branco amarrado. Despejou tudo sobre a tampa do vaso e com uma régua fez um longa e grossa carreira.

A caneta esferográfica foi arrancada de seu tubo. Perfeito para sua iniciação. Guardou o caninho de tinta no bolso da camisa. A ponta mais fina ia no nariz e a mais grossa ia percorrendo a carreira. A primeira aspirada e aquele pó destruiu seu nariz e agarrou em sua garganta. Anacleto engasgou e tossiu muito, enquanto tentava desesperadamente tirar o pó de seu nariz. O pó voou pelos ares deixando aquele ambiente coberto por uma nuvem clara de poeira branca. Era uma dor insuportável e ele sem perceber começava a murmurar gemidos altos. Precisava de água.

Levantou a tampa do vaso. Não pensou duas vezes ao ver aquela água parada e aparentemente refrescante. Enfiou a cabeça sem dó dentro do vaso. Expirava com força para tentar limpar seu nariz e engolia água para refrescar a garganta. Sacudia-se sem parar.

Enxugou o rosto com as toalhas de papel e envergonhado devolveu o outro giz branco que havia pego da sala dos professores. Perdeu o ditado que valia 3 pontos naquela aula.

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