quarta-feira, março 14, 2007

Frias Noites de Outono

A brisa fria daquele início de noite de outono não estava sendo esperada. O clima havia mudado como muita coisa no mundo e as estações não faziam mais sentido. Clézio foi pego de surpresa. Mas mesmo que estivesse esperando o maior dos frios naquela noite, não havia com o que se proteger.

Catador de papel desde os 16, morava na rua. Em épocas assim, deixava de vender os papéis coletados para fazer um abrigo para sobreviver. Deixava de vender seu sustento para sobreviver do frio. Mas naquele dia já havia trocado todo seu dia árduo de trabalho por um prato de comida e um copo de leite.

Vagava com seu carrinho de metal pelas ruas escuras e vazias com uma vã esperança de ainda encontrar uma caixa de papelão para passar a noite. O frio aumentava e tudo que encontrou foi alguns sacos de lixo que ele mesmo esvaziou. Usuaria para tampar suas finas pernas daquele frio que já estava cortando, naquela hora da madrugada.

Entrou em uma rua pequena e estreita. Deitou-se na calçada e cobriu-se com os sacos. O vento era forte e ele tremia muito. Fazia tanto esforço para não tremer que suas veias chegavam a levantar. Pensava em um dia de calor, onde poderia dormir com tranquilidade em um fresco banco de praça, mas sua mente não conseguia esquecer aquele frio que lhe cortava os ouvidos. Tremeu até enfim adormecer.

Não acordou mais. Seu corpo, mais frio do que nunca, acabou aquele dia dentro de um tanque de formol de uma faculdade de medicina. Nãos entiu mais frio.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tadinho Namorado