sábado, julho 11, 2009

Parapeito

Gosto sempre de sair quando a madrugada já está alta. Amarro os cadarços da minha coturno como se fosse nunca mais fosse tirar. Desço pelas escadas porque àquela hora, o som do elevador me incomoda.
Gosto desse horário porque tudo parece morto. Nesse horário da noite, é como se o mundo puxasse uma grande quantidade de ar e prendesse a respiração. Nada se move, não há som, não há nada. Ando sem rumo, em silêncio.
Sempre procuro uma casa antiga. Muros rasteiros e grade baixa. Sempre há uma varanda. Sento-me no parapeito e fico ali, olhando a rua repleta de nada. Como se soltasse o ar dos pulmões lentamente, alguns sinais de vida aparecem. Um carro que passa, uma brisa que carrega uma folha ou um gato pardo que caminha com aparente desprezo.
Nunca me notam. Nem o carro, nem a brisa. Mas por mais imóvel e invisível que eu esteja, o gato sempre para e me olha a distância. Nos encaramos por alguns segundos até ele seguir seu rumo, sem se importar comigo.
Fico ali pelo tempo que houver. Fico ali até que os pulmões da terra comecem a se esvaziar. Desço do parapeito da varanda, passo pelo portão com entalhes antigos e volto pra casa. A janela do quarto aberta trás um pouco de luz para dentro. Deito-me na cama e olho para fora. As vezes as estrelas piscam para mim, as vezes as nuvens rosadas encobrem tudo.
Resisto por pouco tempo antes dos olhos começarem a pesar. Quando o limite da consciência se aproxima, me levanto e fecho a janela. Tenho medo de ser engolido pela escuridão.