sexta-feira, dezembro 31, 2010

O Tempeiro Preferido



Evandro começou a ficar preocupado. Já se passavam 45 minutos do horário combinado e Cida não havia aparecido. Desbloqueou o teclado do telefone mais uma vez para conferir as horas. Aproveitou para colocar ele no silencioso.

Os convidados já estavam claramente impacientes e Márcia, sua sogra, andava de um lado para o outro enquanto pedia ao filho Rodrigo que tentasse ligar de novo para o pai.

O padre já havia avisado que esperaria somente até as 22:00h. "Só mais 15 minutos", pensou Evandro.

Olhando friamente para aquela situação, Evandro sabia que Cida não iria aparecer. Sempre desconfiou da amizade dela com o caixa do restaurante onde iam todos os dias. A insistência de Cida em almoçar lá tinha que ter um motivo. "Ela esperou este momento para me abandonar", divagava Evandro. "Por que ela esperou a gente organizar tudo para fugir? Por que ela não disse tudo no começo? Sabia que devia ter acabado com aquele cara do caixa quando tive oportunidade. Eu não acredito que ela..."

"Cinco minutos" - disse o padre indo até o lado de fora da igreja. Evandro voltou à realidade.

Lentamente se dirigiu para o interior da igreja sorrindo sem graça para um casal de padrinhos que esperava na porta. A igreja era grande e Evandro encontrou com facilidade um pequeno cômodo de orações vazio. Subiu em um banco, amarrou sua gravata em um pesado pedestal de velas e pulou.

Quando o carro que trazia Cida estacionou às pressas na frente da igreja, Evandro já estava sem vida. Foi retirado da igreja por alguns tios. Cida não se conseguiu se perdoar do atraso porque passou no restaurante que sempre almoçavam para confirmar que o jantar que havia encomendado para aquela noite especial estava pronto e feito com o tempeiro que ela mais gostava; e que lembrava o da sua mãe.

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