terça-feira, outubro 24, 2006

ACOLHIDO PELA NOITE


Estava frio naquele quarto. As janelas fechadas deixavam entrar por suas frestas um vento gelado que fazia com que suas dobradiças, mesmo fechadas, cantassem uma melodia triste e constante.

Vindo do cômodo ao lado, o som abafado de uma conversa alta. Na verdade uma discussão que já durava várias horas. Não sairiam dali tão cedo. Isso incomodava sua cabeça, que naquele momento queria não pensar em nada. Não podia descansar. Noite após noite. Não conseguia.

Foi até a janela. Uma forte lufada de vento jogou seus cabelos bagunçados pelos ares. O frio gelou-o a espima. A noite lá de fora seguia calma, totalmente alheia à seus demônios internos. Isto o atraiu.

O mundo parecia mais lento. A escuridão dos céus era como uma lacuna em seus olhos. Aquele cenário incompleto parecia a solução para seus problemas. Saiu apressado sem trancar a porta. Vagou por algumas horas sem rumo. Deixou que o céu sem estrelas fosse seu guia e que suas pernas o levassem para onde quisessem ir.

Sentiu-se calmo e em paz. Quando voltou à realidade não tinha muita ideia de onde estava. Sentou-se na calçada daquela rua deserta. Acendeu um cigarro enquanto um cachorro passava do outro lado da rua observando-o com um olhar desconfiado.

Percebeu ali, naquele instante que tudo continuava igual. Nada havia mudado. Voltou para casa. Não conseguiu dormir. A discussão no quarto ao lado havia acabado.

2 comentários:

Anônimo disse...

Texto novo?

Uauuuu. Adorei

Rafa*.. disse...

Ae Carná!!

De onde vem tanta inspiração para escrever? Mto bom!

Abraços

Rafael