Roda da Vida

O som alegre dos brinquedos do parque de diversão não fizeram Edivaldo mudar de ideia. Era uma noite fria e a cidade inteira estava em celebração. Era sua festa anual e partindo para os últimos dias, todos queriam comparecer pelo menos uma vez. As ruas estavam lotadas e as barracas também. As crianças felizes por estarem rodeadas de cores e musica por todos os lados. Brinquedos e doces completavam aquele mundo de sonhos.

Enrolado debaixo de um longo sobre-tudo marrom, Edivaldo se dirigiu para a Roda-Gigante. A fila estava grande. Pacientemente aguardou enquanto tentava relembrar algumas situações que também lhe tivesse causado tamanha apreenssão. Não conseguiu achar nenhuma que se igualasse à este momento. Olhou para cima e percebeu que realmente a altura era suficiente.

Naquele instante, sua maior preocupação não era pular lá de cima, mas sim como faria isso sem atingir ninguém, ou pelo menos o mínimo de pessoas possíveis. Este pensamento era ainda o único elo que lhe segurava com o céu. Mas estava decidido e não poderia mudar de idéia. Haveria de pular. Entrou no brinquedo e enquanto sua cadeira era elevada ao ponto mais alto, ele, sozinho na cabine, chorou. A lágrima fria escorreu pelo rosto e morreu em seus lábios ressecados. Lá de cima, olhou para a cidade iluminada. Toda sua vida havia sido passada nela. Tão linda.

Esperou a próxima volta para completar sua missão. Enquanto sua cabine iniciava novamente a volta fatítica, o brinquedo emperrou. Era isso que ele mais queria, mas desde que sua cabine estivesse lá em cima. Estava no chão. Balançou a cabeça e desceu. Comprou uma maça-do-amor e foi brincar de arremessar argolas. Seu plano poderia ficar para o próximo ano.