terça-feira, novembro 06, 2007

Passos de Uma Vida

Sentia-se triste. Sentia-se assim porque percebeu, enfim, que era uma pessoa sozinha na vida. Tinha seus amigos, tinha sua familia, tinha seu namorado, mas ao mesmo tempo não tinha ninguém. Não tinha ninguém com quem pudesse se abrir completamente e contar todos seus problemas e sentimentos. Não tinha ninguém para dividir os momentos alegres e os momentos tristes. Ia guardando tudo dentro de si mesma. Fatalmente iria explodir um dia.

Aparentava-se muito feliz para a sociedade, mas por dentro, em casa, remoía-se com pensamentos e ilusões. Estava tão desnorteada que não sabia o que queria. Algo teria que ter sido feito para melhorar ou pelo menos para tentar melhorar. Mas se acostumou com essa vida. Teve medo de envelhecer assim, engolindo tudo e simplesmente deixando a vida passar.

E deixou. O tempo passou, a grama cresceu, a vida evoluiu e o queijo mofou na geladeira. Ela continuava a mesma, apesar de mais velha. Temeu profundamente essa vida enquanto jovem, mas não tomou nenhuma atitude quanto à mudanças. Agora os cabelos brancos já não davam mais para ser pintados; e ela nem queria. Continuava a juntar problemas e desilusões dentro de si. Uma simples conversa poderia ter deixado tudo diferente, mas não obrigatoriamente melhor.

Mas o costume da solidão a deixou assim, em silêncio. Estava cheia de relíquias guardadas no corpo, na mente. Augusta morreu cheia e em silêncio. Assim continou pela eternidade, mas coube fácil no caixão.

(* Texto retirado do baú do antigo blog. Escrito originalmente em 09/11/2002)

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