sexta-feira, janeiro 01, 2010

CIRURGIA DENTÁRIA



Antenor acordou com uma inflamação na gengiva de matar. Recém-empregado numa empresa de softwares, estava com as contas atrasadas fazia 3 meses e iria receber seu primeiro salário somente dia 10. Já havia feito todos os planos para cada centavo desse salário e depois de meses em depressão, seu ânimo voltava a crescer.

Pagaria os meses atrasados de seu aluguel e também as contas do seu telefone. Poderia incluir mais uma caixa de leite nas compras do mês e quem sabe até um sanduíche com os amigos. Mas aquela inflamação logo pela manhã era algo fora dos seus planos. Como faria para arrancar aquele dente ciso? Estava desesperado de dor.

Tudo bem. Antenor era um homem formado e já havia passado por muitas dores nesta vida. Não seria agora que iria se sentir acuado. Não iria gastar seu suado salário com uma cirurgia dessas. Faria ele mesmo esta intervenção. Tomou seu banho matinal e também um copo de leite, que começava a azedar na geladeira e foi trabalhar. No bolso, um pedaço grande de barbante, outro de fio de nylon e também um alicate pequeno. Levou tudo para garantir que iria conseguir se adequar a situação do seu dente.

Chegou mais cedo na empresa. Teria que terminar tudo antes de iniciar seu horário. Foi até o banheiro e trancou a porta. De frente ao espelho, conseguiu ver que realmente seu dente estava bem alto e sentiu-se alegre ao pensar que seria uma solução fácil. Pensou na clássica solução de amarrar o fio no dente e a outra ponta na porta e puxar, mas a idéia lhe pareceu um pouco assombrosa. Teria que ser com o alicate mesmo.

Abriu a boca e com a mão direita levou o alicate até o dente. A gengiva inflamada, atrapalhava um pouco a pegar o dente com o alicate, mas uns empurrões pra lá e outros pra cá acabaram liberando um espaço maior para o dente. Prendeu o dente e deu uma pequena sacudida com o alicate para sentir o quão preso ele estava. Sentiu uma pontada de dor, mas estava disposto a acabar com aquilo. Deu um puxão no dente que veio acompanhado de uma enorme tontura e de sangue escorrendo pela boca junto com a saliva. Movimentava o alicate de um lado para outro a medida que segurava bravamente a vontade de vomitar. O som do dente abalando sua mandíbula junto com o som da saliva sendo espirrada para todos os lados não era muito agradável. Sentia-se muito tonto e sabia que não agüentaria muito mais tempo. Deu outro grande puxão no alicate. Sentiu uma pontada forte de dor que percorreu todo o corpo. Desabou.

Os colegas de trabalho o encontraram ainda caído no chão do banheiro horas depois. Seu rosto nadando na poça de sangue que saía de sua boca e um alicate caído perto. Sangue por toda a pia do banheiro. Foi demitido por causar confusão na empresa e ainda teve que pagar a cirurgia dentária. Nunca mais sequer olhou para um alicate.

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