quarta-feira, novembro 01, 2006
ENCAPSULADO
Eram seus último momentos. Sabia que dali, não sairia vivo. Havia cometido um crime grave e agora, na câmara de gás, pagaria sua pena. Parecia uma cápsula de vidro. Ao centro estava agora sua cadeira. Braços e pernas presos por tiras de couro rígido o deixavam quase imóvel.
À sua frente, pelo vidro, seus olhos percorriam com calma os rostos de cada um. Seus olharem se cruzavam. Familiares da vítima pareciam ansiosos pelo momento. Tinham gana pelo desconhecido e aquele seria mais um show de horrores para seus olhos. O pai da pobre garota assassinada estava na primeira fila. Queria ver o espetáculo de perto. Com a cara brava, parecia uma rocha. Inabalável, sedento de vingança. Não retirou mais seus olhos dele.
Sua vil existência sobre a terra estaria logo terminada. Vasculhou o mais íntimo sentimento daquele pai e percebeu, atrás de todo aquele escudo sentimental, uma ponta de dó. Aquele foi o seu fim. Não queria que tivessem dó pela sua morte. Seu ciclo não estaria completo se partisse deixando para trás dó, ao invés de raiva. Tinha como missão espalhar dor e raiva. Falhou em uma delas.
Apertou o olhar enquanto a fumaça subia e embaçava sua visão. Não havia como fazer mais nada. Iria ser punido por falhar em sua missão. Seus pensamentos começaram a ficar confusos. Prendeu a respiração. Forçava seus braços e pernas mas não tinha mais forças para nada. Seu cérebro e pulmão parecia que iam explodir. Seu rosto estava vermelho. Soltou o ar dos pulmões que foram imediatamente invadidos pelo veneno. Não enchergava mais nada e não podia ser mais visto. Sua última visão foi aquela nuvem branca de fumaça e sua barriga, molhada de suor.
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