quinta-feira, julho 13, 2006

15 ANOS



(Este texto, de algum tempo atrás, é praticamente uma história de amor, escrita em uma época em que só matava meus personagens em meus textos.)

Era um grande dia. Abigail ia enfim fazer 15 anos. Sua festa de debutante era um evento dos mais aguardados naquela pequena cidade interiorana. Estava tudo armado. O clube enfeitado, os convites distribuídos, a roupa comprada e o salão marcado.

Sonhava há muito tempo em fazer 15 anos. Sim...ela agora seria uma moça formada. Poderia sair com as amigas para o cinema, poderia assistir a quase todos os programas que passavam na TV e o mais importante....poderia enfim arrumar um namoradinho e beijar na boca pela primeira vez. Sonhava noites após noites com esse dia. Sonhava em ficar nos braços de Pedro Daniel, seu colega de escola, e receber o beijo de seu príncipe encantado.

Ele dançaria a valsa com ela neste dia, mas sabia que ali, em frente aos pais, familiares, amigos e da avó conservadora, não poderia fazer isso, apesar de que o clima estava todo propício.

Passou a manhã e grande parte da tarde no salão se arrumando. Jogou os cabelos para cima, deu um nó de todos os lados, caprichou na maquiagem e enfim, na hora certa, se vestiu com um lindo vestido branco.

É chegado o grande momento. Os convidados se inquietam nas cadeiras, a maioria com fome, esperando impacientemente terminar a valsa para servirem os salgadinhos e a janta. A festa, armada totalmente ao ar livre, era o palco perfeito para um conto de fadas. A noite de lua cheia, trazia um brilho mágico para o palco, de onde sairia Abigail. Uma escada forrada de branco, foi colocada sobre a pequena piscina, onde Abigail desceria e seria recebida com todas as honras de uma dama.

Soam as trombetas, apagam-se as luzes e ela, linda e pura surge como um anjo. Lá de cima, vê Pedro Daniel, que seria seu par na valsa, após o seu pai. Seu sorriso desponta de um lado a outro do rosto. É seu momento de glória.

O momento de glória é imediatamente substituído por um lapso de desespero ao sentir o salto do sapato quebrar no momento em que começava a descer as escadas. Sem apoio e sem nenhuma chance, Abigail voa para dentro da piscina iluminada com luzes azuis.

Não sabia nadar e foi socorrida às pressas.

O primeiro beijo foi dado pelo Seu Eustáquio, o zelador do clube, que com a respiração boca-a-boca, não deixou que Abigail morresse afogada, diante de seus convidados mortos de fome.

4 comentários:

Anônimo disse...

Tadinha Namorado!!!!!!!!

Anônimo disse...

de um jeito ou de outro, acabou matando a coitada também.

Anônimo disse...

Carná!!! Muito bom esse, deve ir para o Rumi!!! Põe lá!!!

Anônimo disse...

Carná, o final desse troço é GENIAL! A dose perfeita de ironia. Concordo que este devia ir pro Ruminante.

Abraço.