quinta-feira, maio 25, 2006

NOITE AFORA


Aproveitando que já tô logado aqui no blogger mesmo, vou por mais um dos textos antigos meus: NOITE AFORA. Até mais!

Acordou no meio da madrugada. Estava com sede. Foi até a geladeira, pegou a garrafa e bebeu no bico mesmo. Estava sozinho e não recebia visitas para se preocupar com a baba misturando na água. Fechou a porta da geladeira e no meio da escuridão decidiu sair. Foi até o quarto, colocou seu chinelo de dedo, uma jaqueta de couro por cima do pijama e saiu. Não se preocupou em trancar a porta. O corredor cheirava mofo e preferiu descer pelas escadas pois não teve paciência de esperar o elevador. No primeiro andar, assustou alguns ratos que se alimentavam de restos de comida jogadas ao chão e sonelemente continou seu caminho.

Alcançou a rua e percebeu que a luz do poste ainda estava queimada. Sempre esteve e ele nem se incomodou com isso. A rua deserta anunciava que a madruaga estava alta. Foi até o final da rua e virou a esquerda, na intensão inútil de olhar as horas no ainda quebrado, relógio da capela.3:43h marcava o relógio. Fazia anos que ele estava nesta posição, mas para ele, já foi um consolo. Na praça à frente, apenas uma bêbado caído ao chão, preenchia a paisagem caótica do mundo. Sentiu nojo. Nojo da vida, nojo do ar e também do céu. Um casal abraçado contorna a esquina e para na entrada de um beco. Ela, profissional querendo ganhar seu dinheiro e ele, desempregado e fudido na vida, iria ganhar, no máximo uma doença que o levaria para debaixo da terra mais cedo. Atravessou a praça e aproveitou para cuspir na cara do bêbado, que nem se mexeu.

Entrou na rua estreita do outro lado que trazia nas paredes das casas, apenas a arte visual de pixações e a arte fedida de lixos e lixos espalhados pelo chão. Um gato preto, com um rato morto em sua boca, o observa de cima do muro, como se fosse o maior dos reis. O dono da noite. Mexe apenas sua cabeça sem lagar o rato. Uma música baixa canta em seus ouvidos e ele segue a fonte. As luzes anunciam um prostíbulo de baixa categoria. Parado na porta, uma mulher lhe oferece os serviços. Ele nem diminue seus passos. Nem percebe a cicatriz no rosto dela e nem o rasgo em sua meia calça. À frente, uma lata de lixo queima e ao lado, dois homens dividem o espaço com algumas baratas e cheiram uma carreira de pó, sem se importar com sua presença. Apenas as baratas se importam e fogem para debaixo do lixo. A vida continua a medida que seus passos vão marcando sua tragetória e virando mais uma vez, chega novamente em frente ao seu prédio. Empurra a porta e sobe as escadas. Os ratos já haviam terminado de se alimentar. Abre a porta de sua casa. Vai até a geladeira vazia e bebe mais uma gole de água. Volta ao quarto, tira os chinelos e a jaqueta. Abre a janela, sobe no parapeito e sem pensar nem um segundo, se joga de encontro ao chão. Estatelado e sem vida, seu corpo sangrando na calçada foiapenas mais um objeto na noite, que fatalmente seria comido pelos ratos.

3 comentários:

Anônimo disse...

me parece familiar....

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
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