quarta-feira, novembro 29, 2006

À ESPERA DE SOCORRO



Tentava supor que aquilo não estivesse acontecendo. Tentava levar seus pensamentos para longe dali e esquecer aquela situação. Começou pensando em sua infância. Algumas imagens do pré-primário vieram com facilidade à sua cabeça. O colégio, a tia, os recreios. Logo voltava à realidade mas não poderia ficar ali. Tinha que pensar e esquecer aquilo.

Lembrou-se das namoradas que teve, das festas com os amigos. Aquele dia em que bebeu vodka até não aguentar mais e dormiu no chão frio daquela chácara, enrolado simplesmente em um tapete de limpar os pés. Lembrou-se da vodka. Nunca mais ousou colocar um gole daquilo na boca. Um pontada de dor se misturou na cabeça com as lembranças das férias que passou em Fernando de Noronha. COmo aquilo lá é bonito.

Ouviu ali, naquela situação, uma coruja soltar seu lamento. Parecia estar bem próxima. Não enxergava nada. Percebeu então, que estava até agora com os olhos fechados. Abriu-os devagar mas não conseguiu encontrar a coruja. Não conseguiu encontrar nada. Pensou em alguma música para acalmar sua cabeça que doía muito. Começou a cantarolar bem baixinho a música Confortably Numb do Pink Floyd. Pensou na letra e percebeu que ela até se encaixava naquela situação.

Sua voz, mesmo muito baixa, começava a falhar e sua cabeça doía mais e mais. Um calor percorreu seu corpo e ele enfim tentou se mexer. Em vão. Continuava preso debaixo dos destroços do seu carro que capotou na estrada e voou pela ponte, indo parar lá embaixo, ao lado do que um dia fora o leito de um rio.

Esperou por toda aquela noite. Não obteve socorro. Sucumbiu ali mesmo, ao som melancólico do cantar de uma coruja.

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